Palestra 2: “Juventude e a Cultura da Violência Contra as Mulheres”.

Palestrante: Marai Larasi, presidente-adjunta da End Violence Against Women Coalition.

 

TRANSCRIÇÃO

MESTRE DE CERIMÔNIA

Bom, depois desse… da contribuição das painelistas, nós agradecemos esses debates ricos e provocadores, damos continuidade ao seminário… Por favor, eu pediria que todos e todas se acomodassem pra que a gente pudesse dar continuidade.

Agora, teremos a palestra 22 , Juventude e a Cultura da Violência Contra as Mulheres. Para ministrar essa palestra, convidamos Marai Larasi, que atua no enfrentamento à violência contra mulheres e adolescentes em grupos marginalizados e é presidente-adjunta da End Violence Against Women Coalition.

MARAI LARASI

Boa tarde a todos! Muito obrigada pelo convite para participar desse evento tão importante. Esse painel que acabamos de assistir me fez sentir em casa, eu sei que os nossos corações estão conectados em termos de políticas.

Eu quero agradecer à organização, ada pessoa, instituição, que fez com que esse seminário se realizasse. Também gostaria de agradecer ao povo brasileiro e reconhecer as mudanças que o país conquistou em relação à violência contra mulheres e meninas.

No Reino Unido, quando a gente diz que vai haver um seminário, em geral temos 20 a 50 pessoas. Isso aqui não é um seminário onde eu moro, isso aqui é uma conferência. É um prazer estar no Brasil!

Por conta da minha história, é importante que eu fale do respeito à população nativa desse país, aos seus ancestrais. Eu gostaria de dizer de coração e alma, que eu respeito o povo negro do Brasil. Nós temos um passado comum, viagens semelhantes: África, escravidão, sobrevivência…

Então, lá de onde eu venho, a gente tem um contato com uma família, com uma região, a gente compartilha amigos… Então, eu vou falar um pouquinho da minha história porque isso tem a ver com a minha visão de mundo. Eu nasci no Reino Unido, meus pais são jamaicanos – não é longe daqui, não é tão longe – a minha mãe teve a sabedoria de me criar na Jamaica, eu fui criada nas montanhas de Red Dirt e isso é um tipo de poeira vermelha que a gente não consegue tirar do corpo.

A minha história é marcada pela história de colonização. Eu gostei de ouvir a palavra colonização… porque eu achei que seria impossível vir ao Brasil e não ouvir falar sobre colonização. A minha história se envolve em tudo isso.

Eu sou descendente de escravos africanos e também de colonizadores escoceses e gauleses. Eu tenho tudo isso no meu corpo e na minha psique. É a minha força e também uma fonte de sofrimento.

Hoje, eu quero falar da minha perspectiva como mulher negra e feminista. Eu gosto de trabalhar na prática, com bases teóricas, mas eu falo aqui do compartilhamento de comunidades femininas. Eu não sou jovem, mas é um desafio pra mim falar sobre mulheres jovens. Mas eu quero falar sobre as mulheres jovens e dos homens jovens que confiaram em mim e em outras pessoas, com suas ideias, seus pensamentos e suas esperanças.

Eu falo sobre comunidades que não costumam ser pesquisadas, são vistas como exóticas. Então, eu sei que eu tenho um privilégio de estar aqui representando as ideias dessas comunidades. Eu sei que isso é importante.

Eu trabalhei em diferentes áreas geográficas e vou falar, basicamente, do Reino Unido. Vou falar dos problemas e desafios, mas vou falar também de algumas vitórias, do trabalho que estamos fazendo.

Eu concentro meu trabalho nos jovens, penso em maneiras que deixam a menina vulnerável. Uma pessoa jovem muito sábia disse pra mim: “a sociedade não gosta dos jovens”. E eu espero que a sociedade brasileira goste dos jovens. Algumas das referências que eu vou falar podem ser um pouco difíceis em termos… as referências pessoais que eu vou fazer.

Eu queria só avisar vocês que talvez a minha fala não seja leve. Esse… aparelho não está funcionando, será que alguém pode me… Pronto!

As pessoas estão falando hoje aqui sobre violência contra mulheres e meninas, ela é realizada em diferentes modos em todo o mundo. E eu digo mulheres e meninas, porque às vezes a gente fala mulheres, a gente acha que está falando de meninas, mas as meninas têm experiências diferentes e é importante entender isso.

As mulheres e meninas estão sujeitas a abuso sexual, exploração, estupro, tortura, assédio físico, mutilação genital, casamentos forçados, abuso financeiro, assédio, violência feita em nome da honra, perseguição e, conforme a Lori disse, queremos pensar de uma forma fechada, mas é difícil, as coisas são complicadas.

Pra muitas mulheres e meninas, a violência é a norma, isso faz parte da vida cotidiana. A violência foi historicamente compreendida como algo que ocorre na esfera pública ou privada. As mulheres e meninas estão sofrendo novos tipos de violência e ameaças no mundo virtual.

A comoditização dos corpos de mulheres e meninas facilita a emergência de indústrias, nas quais o direito do homem a prazer e diversão ganha prioridade sobre a integridade física e a liberdade das mulheres. Então, eu acho que isso é bem cultural, né.

Então, é interessante falar sobre a cultura de violência, porque cultura não é algo estático, a cultura é dinâmica. Mesmo as coisas mais arraigadas podem se transformar. Quando a gente fala de violência contra mulheres e meninas, é importante pensar na desproporcionalidade.

A violência nos afeta porque somos mulheres e meninas. Isso é um ponto de partida, porque é fundamental quando pensar em mulheres e meninas, é importante ter em mente as realidades complexas da sociedade estratificadas. Pra desconstruir essa desigualdade, é preciso pensar em intersecções com outros pontos de opressão: raça, sexualidade, deficiências…

E não podemos ignorar o efeito debilitante da colonização e a herança do racismo. Obrigada, Luiza, por lançar esse tema. Eu queria dizer que o mundo é diferente fora do Brasil. Não podemos ignorar os efeitos da homofobia, existem formas específicas de violentar uma mulher quando ela é lésbica e quando ela é lésbica numa comunidade específica.

E o corpo dela é vítima de violência física e sexual, a gente precisa levar isso em consideração se quisermos tomar as medidas adequadas para evitar, apoiar essas mulheres e ajuda-las em momentos de crise.

Quando pensamos no contexto que a violência ocorre, há algumas coisas pra considerar. Crenças estabelecidas estruturas legislatórias… Agora estamos falando na liberdade de discurso, né. A liberdade de discurso é fundamental, mas ela está sendo usada pelos criminosos para apoiar o seu direito de violentar as pessoas pela internet.

É preciso pensar na estrutura militar, na igualdade econômica. Quando falamos de evitar violências contra mulheres e meninas, é preciso ter estruturas internacionais. A gente tem a plataforma de Pequim, temos a declaração para eliminar a violência contra mulheres…

Às vezes operamos como se não tivéssemos esses pontos de referência. Eu acho importante pensar no seguinte: a violência contra mulheres e meninas, embora seja prevalente, ela não é inevitável. Eu sei que algumas pessoas já disseram isso hoje, mas imagine como seria se a gente acabasse com a violência contra mulheres e meninas.

Mesmo as ativistas feministas  mais compromissadas esquecem esse sonho, esquecem do que estamos falando de fato. A Lori falou um pouquinho sobre esse modelo ecológico. Esse modelo aqui foi desenvolvido pela Carol (?). Eu não vou entrar em detalhes, porque eu acho que a análise de Lori já foi muito útil, mas isso aqui é bem semelhante.

Há uma diferença. O que falta no raciocínio das causas e dos contextos da violência contra mulheres e meninas é a colonização de povos inteiros, isso tem um impacto sobre os nativos, sobre os negros… E o que isso faz à formação da identidade masculina. Então, é muito interessante que a Luiza tenha falado sobre isso.

Quando eu falo a respeito de prevenção, quer dizer que essa se trata de uma definição que veio de um grupo especializado no combate à violência contra mulheres e crianças que ocorreu em Bangkok. Hoje eu estou falando a respeito da prevenção da violência contra mulheres e meninas antes que ela ocorra. Identificando e abordando as causas subjacentes e promovendo um ambiente que ajude a reduzir a incidência de violência contra mulheres e meninas.

Isso deve ser distinto das intervenções que nós, às vezes, costumamos fazer. Por exemplo, pessoas que trabalham em abrigos. Nós ficamos sabendo que uma mulher foi atacada e nós fazemos uma intervenção; tentamos interferir com os homens para impedir que eles continuem com essa violência. Mas isso é simplesmente uma abordagem superficial.

Então, vamos pensar no mundo em que essas garotas vivem. Em todo o mundo, mais de 700 milhões de mulheres casaram enquanto eram crianças ainda. Então, nesse caso, antes dos 18 anos de idade. Mais de uma a cada 3 mulheres ou cerca de 150 milhões de mulheres casaram-se antes de ter 15 anos. Esse número é assustador.

Para nós, que trabalhamos nessa área, não chega a ser surpreendente, mas ainda nos incomoda muito. No Reino Unido, há meninas que passam por experiências de contato sexual na escola, toques. Esse não parece ser um fenômeno geográfico ou que tenha a ver com classe social ou etnias, mas de 350 milhões de mulheres e meninas passaram por algumas mutilações.

Vamos pensar em explorar a vida das garotas que, quando jovens, quando novinhas, passam por processos cirúrgicos para que seus corpos sejam considerados mais aceitáveis. O que isso significa? Estamos falando de processos cosméticos aqui. Cerca de 120 milhões de garotas, uma a cada 10, um pouquinho mais até, passaram por um ato sexual involuntário em algum momento da vida.

Na Inglaterra, também muitas meninas sofreram violência sexual por parte de parceiros. E há também o “sexting”, a ideia de mandar mensagens explícitas ou ter um certo tipo de conversa por telefones celulares. É útil pensar nisso, porque, às vezes, nós fazemos análises específicas quando adultos. E às vezes, nós pensamos que em alguns casos uma… conversa sexual pode ser partilhada. Mas muitas vezes, isso está ligado a bullying, à violência física e a vários tipos de assédio.

Então, o mundo mudou e eu acho que a Luiza está certa, sim. As diferenças são que para muitos povos indígenas e negros, muitas pessoas não conseguiram ver a face do inimigo, esse momento nunca ocorreu. Mas os padrões mudaram, nada poderia ter me preparado para os abusos que são… infringidos às mulheres no espaço virtual.

O Facebook não existe há muitos anos afinal de contas, vamos pensar nessa forma de violência cultural contra meninas e mulheres. Um dos desafios nessa área surgiu com a ideia de parceiros adultos num modelo ocidental. Nós devemos pensar, na verdade, que as meninas e mulheres jovens passam por atos violentos por parte de seus parceiros, adolescentes agora. Os adultos também. Inclusive, por parte dos adultos em quem elas deveriam confiar.

Se pensarmos nas abordagens para prevenção, podemos focar naquilo que devemos fazer para que os jovens não se tornem violentos quando adultos. Como podemos impedir que uma jovem passe por situações violentas daqui a 10 anos? Nós não estamos acertando nisso, porque há muitas pessoas sendo violentas enquanto nós conversamos aqui.

Então, como Lori disse, é preciso começar cedo esse combate. Nós devemos pensar no que é preciso fazer agora com base, na verdade, em modificar o terreno. O cenário está diferente. As meninas e jovens mulheres sempre sofreram abusos, mas o espaço virtual mudou completamente o cenário para nós.

Então, temos alguns pontos aqui de preocupação e para reflexão. A construção dos papéis de gênero tem muito a ver com isso. O que é um… homem, o que é masculinidade em São Paulo, no Brasil, nas ruas? Como essas construções e mensagens interceptam todas as questões críticas? O que nós estamos ensinando aos jovens sobre questões fundamentais como o consentimento, inclusive o consentimento sexual?

Se você pegar um grupo de adultos, será que eles entendem realmente o consentimento sexual? Levantem as mãos, por favor, quem acha que realmente se sente confortável com esse conceito. Nós temos conversas com os jovens sobre consentimento sexual quando ele não é em relação a um estranho.

Uma das coisas que sabemos em termos do nosso ativismo é que nós tentamos transmitir a mensagem para os jovens falando sobre o perigo de um relacionamento com estranhos; é diferente de quando você tem um relacionamento com quem você ama. O que acontece se você tiver 12 anos e você se apaixonar por essa pessoa que tem 25 anos ou 30 anos? E você vai pensar: essa pessoa é a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

Que tipo de conversa podemos ter sobre consentimento com uma garotinha de 12 anos? Nós também enfrentamos cenários diferentes. Quem tem menos de 25 anos aqui? Quem tem mais de 25 anos, desculpe? Quem usa o Facebook? Quem usa o Twitter? Ok… olha, o Brasil está moderno!

Às vezes, se você tiver mais de 25 anos ou mais de 30 anos na verdade, o mundo digital pode não fazer tanto sentido pra você. Então, quando falamos com os pais sobre manter seus filhos em segurança, eles tentam afastá-los do computador antes que eles possam se aproximar do computador e colocar os controles parentais no computador.

Quem joga videogame aqui? Tem alguns gamers aqui! Quem tem filhos que jogam videogames?… Ok. Existe um jogo muito interessante: o Grand Theft Auto. No Grand Theft Auto há mulheres prostitutas desde o Grand Theft Auto número 3.

Os homens na rua às vezes querem usar uma mulher dessa forma; isso significa que a sua saúde aumenta, você tem que pagar a mulher, mas você pode matá-la também e pegar o dinheiro de volta também, no jogo. Esse é um videogame. E se você conseguir completar as missões de cafetão no Grand Theft Auto, a mulher vai te pagar.

Essa é uma propaganda brasileira. Quem se lembra disso? É de um carro, do Kia, e tem essa cena inteira em que há uma criança que está numa sala de aula com uma… menina e um professor, que é homem – e esse aqui é um pôster – e o que você tem é uma mudança total do cenário. Ela se torna uma adolescente e ele se torna um professor um pouco licencioso. Vocês viram isso? Ok.

Então, isso gerou debates enormes na Europa, era chamada de a cadeira racista. O que vocês veem aqui? É uma cadeira. E as pessoas, por muito tempo, acharam que era uma mulher de verdade aqui. Ela está numa posição e ela está subjugada e a mulher branca está sentada ali. Luiza mencionou algumas questões antes, pode ser difícil de engolir algumas coisas, mas esse é um terreno complicado.

Esses corpos não estão apenas subjugados por um homem negro ou um homem branco. Eles às vezes estão também subjugados pelas mulheres brancas. E são manequins, é claro.

Vocês conseguem ver aqui? Essas linhas um pouco foscas, isso aqui foi um grande sucesso alguns anos atrás na América do Norte, na Europa, em vários lugares. Mas no Caribe não fez tanto sucesso assim.

Quando uma análise foi feita em relação à música, uma das cosias que foi reconhecida foi uma música sobre o estupro. Isso aqui é o que muitos jovens estariam ouvindo ou pelo menos uma versão disso. É importante conhecer o inimigo, entender que o inimigo hoje está um pouquinho diferente.

As mídias sociais são maravilhosas, mas elas também conseguiram criar algumas coisas diferentes. A indústria musical é impressionante! Quem acha que está tudo bem usar esse tipo de música que parece música de estupro?

À direita aqui, podemos ver que uma das coisas a respeito de entender o porquê é importante pensar em raça é a experiência das negras com o sexismo tem a ver com o racismo. Então, todas as mulheres são apresentadas na mídia de uma forma. Essas negras normalmente sugerem bestialidade e uma hipersexualidade. E elas só estão conectadas através do sexo ás suas contrapartes.

Estão conectadas aos homens negros e seus corpos são usados na mídia de forma que parece algo animalesco às vezes. Não dá pra ver claramente esse vídeo aqui, mas é um vídeo muito perturbador. É do Calvin Harris, ele está bebendo da garrafa, mas ali embaixo tem um pornógrafo e o meu colega falará um pouquinho sobre pornografia, então eu não vou falar demais sobre ele.

Mas ele se tornou famoso, porque é um produtor de pornografia e ele é bem conhecido. Agora, algumas décadas atrás, algumas pornografias… era uma coisa, assim, não muito importante, mas hoje em dia ela é superconhecida. Se vocês tiverem filhos, o chocante é o quanto esse tipo de material é acessível. Está a segundos de distância.

E às vezes, as pessoas dizem que você precisa realmente buscar, que é difícil de encontrar isso. Não é verdade, é muito fácil de encontrar isso. Esse homem tornou-se famoso porque ele produz filmes em que ele rotineiramente pune os corpos das mulheres. São filmes focados em estupros com animais etc.

Agora, as mulheres que estão nesse filme normalmente parecem ter mais de 18, mas normalmente elas são vestidas para parecer que têm 12, 13 anos. Esse é o mundo em que nós vivemos e há várias versões disso em espaços diferentes. Mas uma das coisas que nós sabemos e eu me lembro de ter conversado, por exemplo, em Papua-Nova Guiné, com uma colega que deixou eu falar com os jovens e ali, havia uma mensagem diferente, porque eles conheciam isso, eles já tinham tido acesso a isso.

Ok, isso é útil para pensarmos sobre o impacto disso tudo sobre os jovens. Aqui temos algumas perspectivas. Um participantes de um workshop disse: veja aquela mulher branca que está aparecendo nessa pornografia, isso não é correto, as mulheres pode ser tratadas dessa maneira? Isso dá um senso de poder, porque você sente que você pode fazer isso, você pode chegar até uma garota e agarrar o peito dela.

Uma moça de 19 anos disse que, com frequência, os jovens envolvidos nem sequer sabem que estão sendo explorados. A exploração sexual é um tema extremamente delicado. E o trabalhador de um projeto disse: existem alguns níveis preocupantes sobre o que é respeitoso e o que não é nos relacionamentos. E o que pode prejudicar a capacidade de alguém de dar o seu consentimento ou não.

É possível falar sem parar sobre o que é o consentimento, então eu espero ter dado uma ideia a vocês do porquê precisamos, devemos pensar em prevenção. É fundamental pensarmos em prevenção. Tem aqui um pôster de uma coalização contra a violência contra as mulheres, isso foi feito há alguns anos atrás. É um lembrete de que um mundo diferente é algo possível.

Peço que vocês foquem, nos próximos minutos, na possibilidade de um mundo diferente ser criado. Mas uma vez, Lori falou sobre as maneiras em que podemos pensar em criar mudanças culturais. Eu gosto de pensar nisso como espaços para a ação. Nós sabemos que a prevenção é algo fundamental para mulheres e para meninas. E nós sabemos disso porque nós sempre tentamos consertar as coisas horríveis que ocorrem.

Sempre pensamos em como podemos apoiar essa mulher pra deixa-la segura e como podemos impedir que esse homem faça mal para ela. Então, é bom termos a oportunidade de dar um passo atrás e pensar: se tivéssemos todos os recursos do mundo, como impediríamos que isso acontecesse?

E o trabalho que tem sido feito nos últimos anos, mais uma vez… foi fantástico, eu gostei muito de ouvir o que a Lori disse. Principalmente o trabalho que ocorre nos países de baixa renda, então espaços para a ação é possível ter… programas com pais… e as pessoas devem pensar na forma como ensinam a respeito de gêneros a seus filhos.

Como Nadine disse antes, nós podemos pensar em como ter essas conversas com as crianças. O trabalho nas escolas também é possível. Não dá pra chegar numa situação em que você vá a uma sala de aula a cada seis meses. É preciso fazer com que todos dentro daquela escola pensem no que é igualdade de gêneros e como conversar para… proibir a violência contra mulheres e meninas.

E é bom ter jovens conversando com jovens. Eu me sinto uma pessoa de sorte por estar aqui, porque eu já estou com quarenta e poucos anos aqui, mas é importante reconhecermos as ações. É preciso reconhecer a liderança dos jovens nesse mundo. Não podemos ser sempre os suspeitos de sempre conversando uns com os outros.

Não podemos continuar fazendo isso. Devemos pensar em como podemos conversar e apoiar os jovens para que possam conversar uns com os outros. Precisamos também pensar nas atividades focadas em coisas como o sexismo na mídia por exemplo.

Então, vou dar aqui uns exemplos a vocês que vêm do Reino Unido. Aqueles que estão em roxo foram avaliados de forma independente. Então, iniciativas contra a mutilação genital das mulheres, essa é uma iniciativa muito interessante, temos alguns exemplos aqui.

Nós tínhamos um grupo de fundadores, organizações filantrópicas que se reuniram para avaliar como poderiam apoiar atividades para evitar as mutilações genitais das mulheres. Não temos uma quantidade muito grande de dados. Temos informações que vêm e chegam até nós e são recentes.

Mas aquilo que nós ouvimos é que onde ocorre um trabalho de prevenção, foi possível evitar a ocorrência dessas mutilações… em certa parte. E isso é algo muito interessante. O trabalho com mulheres jovens para que se sintam empoderadas para tomar suas próprias decisões foi algo muito efetivo. É mais fácil isso do que tentar mudar as opiniões arraigadas de pessoas de mais idade.

Outro tipo de projeto que fizemos é algo muito interessante, porque é um projeto de uma escola em que os jovens exploraram os estereótipos, como o homem agressivo, a mulher provocadora… e eles foram incentivados a pensar em como funciona o poder na sociedade e foram incentivados a acabar com as crenças mais comuns que envolvem mulheres, meninas e os jovens foram… tiveram que ser responsáveis por essa responsabilidade.

E o projeto falou também sobre relações desiguais e também houve conversas sobre o que é violento e o que não é violento. Algo muito difícil em termos de dizer como isso será daqui  a 5 anos, mas 90% dos professores notaram mudanças positivas em seus alunos.

Aqui, um outro projeto em relação a casamento forçado para mulheres. Não há nada nos slides, mas eu queria dizer, foi um trabalho realizado com escolas. Eles conversaram com jovens… e situaram esse trabalho nas comunidades .E aí, as jovens meninas se sentiram mais poderosas pra ter conversas sobre pressão de comunidade, sexo consentido.

Os professores, as pessoas nas escolas se sentiram mais bem informados, mais capazes para intervir e conversar com as meninas, com as jovens pra dizer que isso não é certo… Essas mensagens foram transmitidas aos pais. E isso acabou com alguns casamentos forçados que poderiam ter ocorrido.

É importante pensar em não intervir apenas aqui ou ali ou ali… mas sim criar uma cultura que seja inserida do nosso trabalho em relação à cultura contra… a cultura de violência contra mulheres e meninas.

O que seria, então, essa prevenção baseada em princípios? Ficamos muito ansiosos em relação a como trabalhar com prevenção numa maneira que não use muito dinheiro. A gente ainda precisa construir abrigos, precisa de serviços que atendam às vítimas de estupro, precisamos ter certeza de que essas pessoas em situação de crise tenham pra onde ir.

Então, quem tem poder de lobby aqui, quando vocês tiveram esse debate, se é que já não tiveram, pensem de tirar dinheiro do orçamento militar e não do que já está sendo feito pra atender as mulheres. Tirem dinheiro de outras partes e não dos serviços que já são oferecidos às mulheres.

Não existe solução de tamanho único. Aprendemos isso no Reino Unido. Ter essa conversa sobre intersecção. Se você quiser fazer um trabalho que segue uma pauta única e você não fala de homofobia, como é que uma mulher jovem, uma jovem lésbica se encaixa aí. Isso significa que você nem está pensando no caso específico dela.

Se você não fala de raças, de questões étnicas, você pode acabar mandando uma mensagem completamente errada. Se você tiver um único modelo familiar: 2,5 filhos, meio cachorro por família… talvez você não pense numa família como a milha. Eu tenho uma família imensa, todo mundo ajuda na tomada de decisões.

Então, q dose fala em prevenção, é preciso pensar em diferentes contextos familiares e diferentes tipos de lares. Não… bem, eu botei um ponto ali… eu vivo numa situação… eu sei que o meu Governo vai ficar meio bravo com o que eu vou falar. O Governo está ameaçando derrubar a lei dos Direitos Humanos. Nós estamos viajando, representando o Reino Unido, dizendo como trabalhar com Direitos Humanos, enquanto isso o Governo está ameaçando derrubar essa legislação,.

É essencial ter uma abordagem de Diretos Humanos. Isso faz com que a conversa ocorra de um jeito diferente. Começamos a pensar em “igualidade” em Direitos Humanos, em igualdade em Direitos Humanos. Isso aqui é um pouquinho polêmico, o outro ponto aqui. Eu quero trabalhar com homens e meninos, mas eu não quero que eles sequestrem a nossa pauta de interesses.

Ao longo dos últimos anos, se eu entro numa sala e tenho uma conversa, as pessoas falam: ah, ela é feminista, ela vai dizer esse tipo de coisa mesmo. E aí, um homem pode entrar na sala e ter essa mesma conversa, aí as pessoas aplaudem, discordam, porque as pessoas ficam gratas por um homem estar falando de patriarcado. Grande coisa!

Eu quero que os homens se responsabilizem, sejam líderes, mas eu quero que isso seja feito ao nosso lado. Eu quero que eles reconheçam o treinamento feminista que eles receberam, eu quero que eles reconheçam a história da sua masculinidade. E eu quero que as mulheres parem de discordar obrigatoriamente dos homens feministas.

Isso não é uma negação dessa conversa que fala dos homens? Mas não vamos reproduzir aquilo que estamos tentando desafiar. Não vamos deixar que os homens façam o nosso trabalho. Eu não sou uma terapeuta, mas eu acho que a gente precisa refletir, precisa pensar no que está fazendo, em como está fazendo e precisamos saber quais são os nossos privilégios. Não basta ter uma conversa e não falar sobre poder.

Então, essa coalizão para acabar com a violência contra mulheres, eu fiz uma análise de práticas promissoras. Isso foi adaptado daquilo que era da ONU Mulheres e do Action Aid. É uma abordagem de gênero e Direitos Humanos. E as evidências são importantes, não pode ser uma evidência que só valorize o conhecimento eurocêntrico. Essa evidência precisa ser valorizada por pessoas de diferentes áreas e comunidades.

O que eu considero conhecimento? Eu nasci no Reino Unido e fui criada na Jamaica e tive uma criação rastafári de certa maneira. Os rastas falam da busca do conhecimento que está dentro. Então, esse tipo de conhecimento também precisa ser valorizado. Ele precisa ser sustentável, reproduzível, precisa abraças setores excluídos da sociedade. O que vocês podem fazer?

Quando temos essas conversas, podemos sair achando que não há esperança. Então, é preciso desenvolver mensagens claras. Manter uma análise de intersecção de gêneros na agenda, trabalhar em parcerias, vamos dialogar com diferentes autoridades regulatórias. É muito interessante o trabalho que vocês estão fazendo aqui no Brasil em relação à internet, eu acho que o Reino Unido precisa aprender com vocês nesse aspecto.

Apoiem o trabalho nas escolas como algo centrado em direitos e garantam que a prevenção esteja incluída em todas as estratégias relacionadas à violência contra mulheres e meninas. Aqui, o que os jovens nos disseram em relação ao trabalho:

As pessoas se sentem mais à vontade falando com pessoas da própria idade e do próprio sexo. Quando ouvi isso, eu quase chorei. É preciso ser… mostrar que é descolado não abusar das meninas. Não pode ser descolado alguém que abusa uma menina. Porque muita gente acha que é legal.

Um professor disse: os estudantes masculinos refletem mais sobre o uso da violência. As estudantes mulheres são mais seguras de si mesmas. Esse projeto ainda não foi avaliado. E aqui um jovem disse o seguinte: Ajude as pessoas a abrir os olhos e ver o que está acontecendo. Nós focamos nos grandes pontos e não nas pequenas coisas que podem ter maior efeito na vida das pessoas.

E um jovem disse o seguinte: foi uma experiência que mudou a minha vida! Eu quero que todos nós pensemos como seria se a gente investisse nosso tempo e nossa energia na criação de um trabalho que mude a vida das pessoas. Esse é o nosso jogo. A violência contra mulheres e meninas não é inevitável, não vamos tratar como se fosse. Vamos trabalhar pra que a gente mude a vida de todo mundo. A minha, a de vocês, a da geração seguinte.

Esse trabalho é muito difícil. Às vezes, a gente se cansa, a tentação é desistir. E se você tem a tentação de desistir, pense no que esse jovem aí falou, de que essa experiência mudou a vida dele. Ele acha que a vida dele mudou. O que que vocês podem fazer para mudar a vida de algumas pessoas? Pensem nisso. E isso é o que eu tinha para dizer.

Muito obrigada pelo tempo, pelo convite e por escutarem o que eu tinha para dizer. Muito obrigada!