Apresentação da pesquisa #MENINAPODETUDO, realizada pela ÉNois Inteligência Jovem com meninas de 14 a 24 anos sobre violência contra as mulheres e desigualdade de gênero.
Com Érica Teruel, educadora da ÉNois.
TRANSCRIÇÃO
MESTRE DE CERIMÔNIA
Boa tarde! A gente desculpa pelo atraso e também pelo problema técnico de energia também, a gente pede desculpas por isso. Pedir a todas e todos se acomodarem pra gente dar continuidade… alguns recadinhos antes: a gente pede, por favor, que vocês possam preencher o questionário de avalição, porque até agora só uma pessoa entregou pras recepcionistas… porque a gente precisa se vocês gostaram, no que precisa melhorar pro próximos. Então, por favor, que todos e todas possam preencher o questionário de avaliação que está aí na cadeira de cada um e entregar pras recepcionistas, por favor.
Em relação aos certificas, ó, quem precisar de certificado, por favor, enviar um e-mail para info@ scovaw.com.org. Scovaw eu vou soletrar: s c o v a w. Ponto org por favor. Quem necessitar encaminhar por e-mail que o certificado virá por e-mail até amanhã, por favor. Que puder, né, a gente pede essa gentileza. Sim: info@scovaw s c o v a w .org. Todo mundo conseguiu anotar? Precisa que repita? Não? Então, vamos!
Dando início às atividades agora da tarde, teremos a apresentação da pesquisa realizada pelo É Nóis Inteligência Jovem, com meninas de 14 a 24 anos sobre violência contra as mulheres e a desigualdade de gênero. Para fazer essa apresentação, nós convidamos Érica Teruel, que é educadora desse projeto.
ÉRICA
tem que dar um jeitinho aqui senão eu não apareço. Boa tarde, meu nome é Érica, eu estou representando a É Nóis Inteligência Jovem. Nós somos uma empresa aqui de São Paulo e a gente faz muita coisa. A gente dá aula relacionada à comunicação, fotografia, jornalismo, a gente produz conteúdo em diversas plataformas e a gente faz pesquisa. Só que eu poderia resumir todas essas coisas numa só: a gente fala com jovem, a gente ouve o jovem, o que é ainda mais importante. Por isso que a gente está aqui na verdade.
Porque… a gente sempre é chato, toda vez que a gente participa de um evento a gente faz uma pergunta: quem aqui é jovem? Quem aqui é maior… menor de 21 anos? Menor de 18? Pois é, a gente precisa trazer o jovem pra roda, principalmente quando a gente vai falar de cultura, quando a gente vai falar de mudança na sociedade. Esse evento é maravilhoso, mas a gente precisa chegar nesse cara, nessa menina principalmente.
Foi o que a gente quis fazer com esse trabalho. A gente fez uma pesquisa com duas fases aí. Uma “quali” com 20 meninas de periferia do Brasil inteiro, de várias partes do Brasil. Depois, a gente fez uma consulta online, quase 2300 meninas participaram dessa pesquisa. E a gente vai ver o resultado daqui a pouco. Mas, mais importante do que isso, é que a gente percebeu que esse trabalho não dava pra acabar, não dava pra ir pra casa e falar: tudo bem, a gente fez uma pesquisa, descobriu um monte de coisa e acabou.
Na verdade, porque o tema envolveu muito a gente, nós somos uma empresa de meninas, de mulheres maravilhosas e aí, a gente percebeu… tão difícil, né!… E aí, a gente percebeu: cara, não dá pra parar por aqui. Então, hoje a gente começa uma campanha: #meninapodetudo. A gente quer uma campanha por informação, por conscientização, que a gente precisa levar uma educação com igualdade de gênero pras crianças, pra escola, pro ensino fundamental, pro ensino médio.
Porque a gente… brigada… a gente fala muito de violência, a gente fala muito de violência doméstica, a gente tem que falar mesmo. Mas a gente não pode continuar separando a nossa educação em coisa de menino e coisa de menina. Enquanto a gente estiver fazendo isso, a gente vai estar criando meninas que, infelizmente, não vão reagir, vão se sentir mais culpadas e envergonhadas quando alguma coisa acontece, que é o que a gente está vendo diariamente.
Ontem, por exemplo, teve a notícia da menina que foi estuprada na escola e ela pede desculpa pra mãe. Isso não pode mais acontecer. A gente tem que olhar pra essa menina e tem que educar ela de uma outra forma. E é isso. Então, a gente vai começar a campanha hoje, tem esse vídeo que vocês vão ver agora que é um pouquinho mais completo, mas a gente vai lançar outros vídeos sobre relacionamento abusivo, sobre feminismo negro, outros temas que merecem muito a nossa atenção.
Então, queria que vocês vissem o vídeo e, pra conhecer a É Nóis e conhecer a campanha, a gente vai lançar um e-book com todas as informações, disponível pra baixar pra todo mundo, vai estar no nosso Facebook. É só pesquisar: Énois/conteúdo. Muito obrigada e obrigada pela oportunidade de estar aqui.
VÍDEO
– Tem que ter medo de andar na rua, porque eu posso sofrer uma violência só porque eu sou mulher.
– Eu posso ser, eu posso ser morta só porque eu sou mulher.
– Eu já fui seguida até a porta da minha casa…
– Comigo já aconteceu isso sim, de eu estar no ônibus cheio, horrível de cheio, e uma pessoa se aproveitar.
– Eu estava sentada e ele começou a passar a mão na “minha costa” e enrolar o meu cabelo no dedo dele achando que ele tinha todo o direito a isso.
– E aí, um cara falou alguma coisa com ela.
– E aí, ela virou… e xingou ele e aí, ele veio pra cima da gente. No final das contas, ele começou a ameaçara a gente, tipo, falar que ia pegar a gente, que ia matar a gente…
– E é muito invasivo, porque eu estou na rua, simplesmente vem um ser, não sei de onde e acha que ele tem o direito de tocar no meu cabelo. Além de ser um objeto porque eu sou mulher, eu sou um objeto porque eu sou preta, eu sou exótica, né.
– Eu posso chegar na minha casa hoje, de repente eu posso falar alguma coisa que ele não goste e aí, a gente pode brigar, pode sair na porrada, sabe.
– Eu recebi um e-mail de uma vaga para edição de vídeo. Eu me inscrevi, a minha namorada também se inscreveu. Ela ligou e aí, ela falou com o cara e o cara disse assim: Bom, essa vaga não é pra mulher.
– A maioria era homem ali, então tinha… era eu e mais 5 meninas eu acho, de 24 pessoas. E o professor ficava sempre nessa: ah, porque essas gurias não querem nada com nada. E as gurias eram as que mais se esforçavam.
– Na nossa equipe de trabalho aqui de Itaquera somos em 3. E aí, o Marcelo, como a figura masculina, ele acaba sendo visto como uma referência, é como se a gente não existisse.
– Homem pode se relacionar com várias mulheres. A gente se envolvendo com vários, a gente não vai ser a mesma coisa.
– A partir do ponto que eu uso uma roupa curta, eu sou taxada como uma mulher muito vulgar, como uma vagabunda ou coisa do tipo.
– A gente só pode casar até os 30, ter filho até os 32, porque senão você está velha. Se você chegar aos 40, sem casar e sem ter filho…
– São tantas coisas pra você fazer, tantos papéis que você tem que cumprir pra você obedecer um padrão, acaba você, assim, se oprimindo, sabe.
– Cultural isso, né, a gente ser machista e a gente reproduzir esse machismo.
– A base de tudo é na família, o início do machismo vem daí.
– Porque a gente não problematiza o machismo. Então, a partir do momento que eu não problematizo a minha fala, eu vou reproduzir aquilo naturalmente.
– Porque a maneira com ela me tratava era diferente da maneira como ela tratava ele. Então, eu tinha que arrumar a casa porque eu era mulher, eu que ia me casar e ela não aceitaria o meu marido indo me devolver porque eu não saberia fazer as coisas de casa.
– A gente lida com isso desde cedo, desde sempre. Com um cara autoritário que não deixa eu usar minhas roupas, não deixa eu usar o meu cabelo, não deixa eu usar o meu nada.
– Na periferia é assim, o menino pode ficar até mais tarde na rua, porque ele é menino. A menina não, a menina tem que estar em casa.
– Porque mainha justamente, pela educação que ela teve, ela tentou, né, educar a gente dessa forma também, né, tratar… presa dentro de casa, nada de sair pra rua.
– Eu já tive que vestir um blusão porque eu estava errada, andando de forma errada. Minha mãe me disse isso.
– eu fui criada por um cara, por um homem que é um troglodita, ele é muito machista. E a minha mãe, ela… foi criada por um cara também, pelo pai dela que também é extremamente machista.
– E eu vejo o quanto a escola é machista, sabe. Por exemplo, as aulas de Educação Física, os meninos vão jogar bola e as meninas, os professores falam: ah, podem ficar aí conversando.
– Você não pode jogar futebol porque você é menina. E aí, as meninas tiravam a camiseta, ficavam de samba-canção… era uma festa pra eles, era muito legal.
03:07:20 – Tu queres jogar futebol, mas tu não pode jogar futebol. Eu falei: por quê? Ele falou: porque tu é menina. As regras do jogo, uma delas era: só meninos.
– Eles, eles também acabam sendo criados pra isso. Acho que é uma cultura tanto pra mulher ser criada pra ouvir, ser criada pra aceitar tudo isso, tanto como pro homem. Você tem esse papel de homem, tal, você é o cara.
– Isso é ensinado pra eles aqui, mexer é legal, prova que você é homem, entendeu. E se você está num grupo ainda, poxa, você vira o rei do grupo.
– E esse homem tem dificuldade de lidar com essa mulher, que não é aquele mulher que ele aprendeu que ele teria, que é a mulher que vai amar arrumar a casa, ficar em casa e vai querer um namorado pra levar ela ao cinema porque ela não pode ir ao cinema sozinha.
– A sociedade em si espera que a gente esteja sempre em um… em um lugar de espera, sabe, de estar… (?) outro, sabe, e sobretudo dos homens.
– Ah, você não pode porque você é menina. Ah, você não pode porque você é mulher, não sei o quê e tal. Sabe, é bem cruel você ouvir isso.
– É horrível, né, porque tu, tu fica presa.
– O machismo, ele me afeta diariamente. Eu não tenho uma boa relação com os homens por conta disso.
– Eu sempre tive que falar muito baixo, porque menina não fala alto… E pode ser que eu virasse jogadora de futebol e eu fui privada disso por uma educação que me ensinou que ou eu ficava conversando ou eu jogaria vôlei.
– Foi justamente me descobrir, descobrir o que eu queria na vida, sabe, ter essa liberdade com as escolhas.
– Minha avó tem um ditado muito bom, ela fala assim: é melhor prevenir do que remediar e a prevenção está na educação.
– É importante que desde a infância seja uma educação igual pra todos, que todos cresçam e façam as mesmas coisas.
– Eu quero uma escola que fale português, matemática, ciências, geografia, história e mais… porque isso é essencial. Mas eu quero uma escola que fale de igualdade de gênero, homofobia. Já que vem… o machismo vem desde pequenininho, a gente trabalhar desde pequenininho.
– Eu acredito que é a unidade, você precisa se juntar a outras mulheres, porque a gente só tem força quando a gente está junto.
– A gente precisa entender uma a dor da outra, parar de culpar uma a outra.
– A partir do momento que você empo dera alguém, que você mostra pra ela tudo que ela tem que ela não consegue enxergar, todo o poder que ela tem, ela vai arrebentar as correntes que a aprisionam.
– O primeiro passo é a aceitação. Isso existe e a gente tem que ir contra e a gente vai ir contra no dia a dia, nos hábitos, na rotina.
– E a partir do momento que eu falo com outra mulher preta e ela ouve, ela vai entender e vai reproduzir, pronto!
MESTRE DE CERIMÔNIA
Bom, tenho que me recuperar depois desse vídeo, fiquei emocionada, mas como feminista e mãe de goleira… Olha, parabéns, meninas!