17/04/2018

Episódios de violência a jornalistas são registrados pelo país

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Somente durante a última semana, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Piauí tiveram casos de jornalistas agredidos; deputado do partido Podemos é o autor de um dos episódios.

Tiro estilhaçou porta de vidro do jornal em Paranaguá, no Paraná (Foto: Jornal dos Bairros Litoral)

O Brasil registrou durante a última semana diversos episódios de agressões a jornalistas. Os casos acontecem poucas semanas após a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) divulgar um relatório em que revela que o número de agressões e assassinatos de jornalistas no Brasil diminuiu cerca de 50% em 2017 na comparação com o ano anterior.

Sistema Meio Norte de Comunicação
O jornalista do Sistema Meio Norte de Comunicação, do Piauí, Efrém Ribeiro foi agredido na manhã da última sexta-feira, 23 de março, pelo deputado federal Silas Freire, do Podemos, dentro da própria emissora de TV onde os dois trabalham, em Teresina. Integrante da “bancada da bala” na Câmara, Freire também é apresentador de um programa policial, chamado Ronda Nacional.

Funcionários da emissora afirmaram que Ribeiro levou dois tapas e um chute. As câmeras de segurança não conseguiram registrar a ação, pois estavam mal posicionadas. A coordenadora de Recursos Humanos da empresa, Karolinny Ramalho, não quis se pronunciar sobre o caso, afirmando apenas que será tratado pelo setor jurídico do Sistema Meio Norte.

O jornalista agredido tem mais de 30 anos de profissão e também trabalha como freelancer para outros veículos nacionais, além do Sistema Meio Norte. Em 2012, participou do trabalho vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo, “Aula de excelência na pobreza”.

O deputado Silas Freire já foi alvo de um inquérito do Ministério Público Estadual do Piauí, que o investigou como mandante do assassinato do radialista Jean Carlos de Souza Costa, conhecido como Pato Donald. O crime ocorreu nos anos 1990.

De acordo com os promotores Ubiraci Rocha e Eliardo Cabral, a vítima teria citado o nome do deputado antes de morrer. A testemunha foi o delegado de Polícia Civil Menandro Pedro.

O processo foi suspenso em 2015 pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí Erivan Lopes, que alegou que a denúncia feita pelos promotores era “viciada”, devido à inimizade entre eles e Silas Freire.

No entanto, o caso não foi definitivamente encerrado. Ainda em 2015, o promotor Régis Marinho foi nomeado no lugar de Ubiraci e Eliardo e encaminhou à Procuradoria Geral da República um pedido para a reabertura da investigação criminal, mas nunca obteve resposta do então procurador Rodrigo Janot.

Jornal dos Bairros do Litoral
Jornalistas do Jornal dos Bairros do Litoral, em Paranaguá, litoral do Paraná, foram alvo de um atentado, quando a sede do jornal em que trabalham foi atacada por homens armados que dispararam três vezes, quebrando portas de vidro.

A redação do veículo fica na Rua João Eugenio, no bairro Costeira. Segundo Gilberto Fernandes, que é o responsável pelo jornal, os disparos foram efetuados por volta da 0h15.

Ele conta que tinha deixado a redação cerca de 40 minutos antes. Para Gilberto, os disparos podem ser uma retaliação por conta do trabalho investigativo feito pelo jornal.

De acordo com a Polícia Militar (PM), três balas atingiram a parte externa e estilhaçaram duas portas de vidro temperado. As balas foram entregues à Delegacia da Polícia Civil de Paranaguá, que deve investigar o caso. Um Boletim de Ocorrência (B.O) foi feito.

Caravana do ex-presidente Lula
Também na sexta-feira, 23 de março, a repórter Débora Ely foi agredida verbalmente por manifestantes anti-PT em Passo Fundo (RS), durante a caravana do ex-presidente Lula. Ao se identificar como jornalista para uma das pessoas que protestavam, foi alvo de gritos “RBS comunista, jornalista petista”. A hostilidade continuou mesmo depois de Débora se afastar; além dos gritos, alguns manifestantes atiraram ovos na direção da repórter.

No dia seguinte, a fotojornalista freelancer Isadora Stentzler foi atingida nos olhos por um jato spray de pimenta dado por um policial militar, enquanto cobria protestos contra Lula em Chapecó (SC). Segundo ela, depois de se recuperar, foi ameaçada por outro policial: “Sai daqui! Ou quer spray na cara de novo?” Antes, Isadora foi agredida por manifestantes anti-PT: um deles a empurrou e outro, atirou ovos. O fotógrafo Carlos Rafael de Souza também foi atingido por ovos.

O Instituto Vladimir Herzog lamenta profundamente os episódios e reafirma seu compromisso em denunciar esses casos e seguir defendendo a liberdade de expressão.

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