30/10/2018

Vencedores do 40º Prêmio Vladimir Herzog expoem obstáculos do jornalismo no Brasil

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Jornalistas e artistas do traço premiados na 40ª edição do Prêmio Vladimir Herzog se reuniram na 7ª Roda de Conversa para contar as histórias por trás de suas matérias.

Por Fabio Freller, Giovanna Galvani e Marília Campos
Cobertura especial do projeto Repórter do Futuro, da Oboré Projetos Especiais

A roda de conversa da 40ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog debateu bastidores e apuração dos trabalhos vencedores nas seis categorias da premiação. As dificuldades enfrentadas para fazer jornalismo investigativo de qualidade no Brasil foram abordadas pelos convidados que tomaram espaço no Teatro da Universidade Católica- Tucarena – na tarde da última quinta-feira, dia 25. O debate foi mediado pelos professores e jornalistas Angelina Nunes e Paulo Oliveira.

O fotógrafo Mauro Pimentel, da Agence France Press, participou pela primeira vez do prêmio e recebeu menção honrosa pela foto “Guerra na porta de casa”. Carioca, de Jacarepaguá, Pimentel acredita que o registro premiado dialoga com sua própria infância. O clique realizado durante intervenção na guerra entre facções na favela da Rocinha, no final de 2017, mostra dois fuzis apontados para uma criança da comunidade. “Essa é minha primeira participação no prêmio em um momento tão importante, momento em que a gente não tem certeza do que virá no ano que vem. A gente nem sabe se poderemos trabalhar. Pela primeira vez temos essa incógnita, em 30 anos. Mas essa incerteza já existe há muito tempo na favela, com um fuzil apontado para a cabeça”.

A morte da vereadora Marielle Franco, em março deste ano, também foi relembrada no diálogo, por meio da reportagem em vídeo vencedora “Defensores sob ameaça”, apresentada pelo programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Mariana Fabre e Marcelo Castilho estiveram presentes na 7a roda de conversa. “Marielle trouxe luz a um assunto invisível – embora a perseguição contra defensores dos Direitos Humanos seja algo que historicamente acontece  principalmente na área rural. Marielle trouxe isso para o urbano”, disse Mariana. Para a repórter, a matéria aborda os Direitos Humanos com um viés didático. “Depois de 50 anos, a gente ainda precisa explicar o que são os Direitos Humanos- algo que é função e dever do Estado, mas ainda assim as pessoas que lutam por isso são criminalizadas”. Ela também lamentou o fato de que, antigamente, a exposição constante dos defensores de direitos humanos na mídia funcionava como garantia de segurança para eles, o que não acontece mais, como mostra o caso de Marielle Franco.

Já o jornalista Nathan Fernandes, vencedor na categoria Texto pela reportagem “A síndrome do preconceito”, publicada na revista Galileu, define Direitos Humanos como resistência. “É a segunda vez que recebo o prêmio e, pessoalmente, esse trabalho vem como algo muito maior, pelo momento em que vivemos no país”, diz. A matéria de Fernandes relata uma experiência própria sobre os que convivem com o vírus HIV. “Só consegui escrever em primeira pessoa. Veio para mostrar que quem convive com o HIV são pessoas próximas que, muitas vezes, não se sentem a vontade para falar. Foi especial contar essa história”.

Os obstáculos enfrentados durante a produção jornalística foram pontuados nas falas dos participantes. Albari Rosa, vencedor com a fotografia “Consumidos pela escravidão”, comentou o perigo ao qual os jornalistas se expõem:  “A linha do ‘estou seguro, não estou seguro’ é muito tênue. E no trabalho dessas reportagens ela é ainda maior”. A dificuldade para achar dados foi tema da fala de Julliana Melo – vencedora na categoria Multimídia, com a matéria “UmaPorUma”, do NE1. Para ela, não encontrar informações “é frustrante, mas o trabalho de trazer esses números [sobre feminicídio] já é muito importante, porque esses números não existem”. Mariana Fabre, repórter da TV Brasil que venceu na categoria vídeo, também comentou sobre o assunto: “A gente teve um trabalho exaustivo de investigação para identificar locais que mais têm defensores sendo assassinados e ameaçados no país”. Pimentel também destacou a dificuldade do trabalho como fotógrafo em regiões de conflito: “Eu nunca mais consegui chegar naquele lugar (na Rocinha, onde a foto foi feita). Eu não consigo mais mostrar aquela realidade”.

O encontro ainda contou com a presença de Brum e Gilmar, homenageados na categoria Arte; Danyele Soares, homenageada pela reportagem “Mulheres no cárcere”, da rádio Nacional/EBC; Stefano Wrobleski, homenageado na mesma categoria pela reportagem “Explorando o Arco Mineiro”, do InfoAmazonia e o Correo Del Caroní; Amanda Rossi, homenageada pelo texto “Monstro, prostituta, bichinha: como a Justiça condenou a 1ª cirurgia de mudança de sexo no Brasil e sentenciou médico à prisão”, da BBC Brasil, e Fabiana Lopes, homenageada pela reportagem “O mapa da fome no Brasil”, da Record TV.

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