01/02/2018

Tortura, opressão e violência não podem ser enaltecidas

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O Instituto Vladimir Herzog repudia a iniciativa do grupo “Direita São Paulo” e manifesta sua perplexidade com a existência de ações que, ainda hoje, tentam disseminar ideias fascistas, machistas e tão opressoras e retrógradas.

O grupo “Direita São Paulo” anunciou que, no dia 10 de fevereiro, sábado de Carnaval, irá promover o desfile do bloco “Porão do DOPS 2018”. De acordo com o próprio grupo, a iniciativa pretende enaltecer Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury, reconhecidos torturadores e assassinos que foram, respectivamente, comandante do DOI-CODI e delegado do DOPS durante a ditadura militar.

Na página do evento no Facebook, os organizadores preveem “cerveja, opressão, carne, opressão e marchinhas opressoras”. Entre as músicas, uma das mais famosas é a canção que tem o seguinte refrão: “feminista, eu não me engano, seu pai chora no banho”. Até a manhã desta quarta-feira, 760 pessoas confirmaram presença no evento e outras 1,6 mil manifestaram interesse em participar do desfile.

O Instituto Vladimir Herzog vem, por meio desta nota, repudiar a iniciativa do grupo “Direita São Paulo” e manifestar sua perplexidade com a existência de ações que, ainda hoje, tentam disseminar ideias fascistas, machistas e tão opressoras e retrógradas.

Além disso, manifestamos também nosso total apoio aos procuradores do Ministério Público Estadual de São Paulo que, nesta semana, entraram com uma ação contra a iniciativa do “Direita São Paulo”.

Na ação, os promotores pedem que os réus deixem de divulgar o bloco carnavalesco e seus eventos, bem como outras manifestações de apoio ou elogio à tortura, e que removam da divulgação do bloco carnavalesco, em todos os meios e mídias, as expressões “Porões do DOPS” e a menção a imagens ou símbolos que remetam à tortura, bem como a nomes e imagens de notórios torturadores.

A ditadura que vigorou entre 1964 e 1985 foi um dos mais tristes episódios de nossa história, marcado por perseguições a artistas, estudantes e militantes, pela censura, por exilamentos, por torturas, desaparecimentos e muitas mortes.

Celebrar a ditadura é celebrar o legado de um Estado de exceção, de violência, de ataque aos direitos humanos e de uma realidade que em nada combina com o carnaval brasileiro – uma festa popular e de valorização do que há de mais alegre em nossa cultura.

Instituto Vladimir Herzog
31 de janeiro de 2018

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