14/01/2017

Publicação do manifesto “Em Nome da Verdade” completa 41 anos

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No último dia 6 de Janeiro, o manifesto “Em Nome da Verdade” completou 41 anos. O documento, assinado por 1.004 jornalistas de todo o Brasil e encaminhado em Janeiro de 1976 à Justiça Militar, contestava publicamente a versão oficial de suicídio como causa da morte de Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI do II Exército. A repercussão do corajoso manifesto foi um importante marco na resistência à ditadura militar, ao repudiar publicamente o Inquérito Policial Militar (IPM) concluído pelo Exército em 12 de Dezembro de 1975 e divulgado uma semana depois, em 19 de Dezembro, uma sexta-feira.

No dia seguinte, um sábado, 20 de Dezembro, os principais jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro publicaram na íntegra as conclusões do IPM, que confirmavam o suposto suicídio. O jornalista Fernando Pacheco Jordão, grande amigo de Vlado, descreve em seu livro “Dossiê Herzog: Prisão, Tortura e Morte no Brasil” como os militares mantinham a tática de deixar para o fim de semana a divulgação de fatos cuja repercussão queriam evitar:

“Tinha sido assim com as prisões em outubro, a maior parte realizadas sexta-feira à noite ou sábado de madrugada, quando é difícil mobilizar ajuda e às vezes até a divulgação da notícia fica na dependência de autorização do dono do jornal, que em geral não é localizado em fins de semana. O mesmo acontecia agora com o IPM. Com a maioria dos repórteres habitualmente de folga num sábado, quem os jornais iriam movimentar para investigar e levantar opiniões? Quem poderia ser localizado num sábado para falar?”.

Na segunda-feira seguinte à publicação, dia 22 de Dezembro, a diretoria do Sindicato dos Jornalistas se reuniu para discutir o conteúdo do Inquérito. Audálio Dantas, na época presidente do Sindicato, conta no livro “As duas guerras de Vlado Herzog” que contestar as conclusões do IPM era necessário, mas “parecia uma missão impossível”.

Três advogados da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo foram então procurados e aceitaram analisar em profundidade o documento do Exército. Em seguida, um grupo de jornalistas, com base na minuciosa análise preparada pela comissão de advogados, elaborou um documento com a síntese das incoerências e omissões levantadas. Este documento, em forma de abaixo-assinado, circulou nas redações das principais capitais do país.

No início de Janeiro de 1976, o abaixo-assinado intitulado “Em Nome da Verdade”, expressando a convicção de que as conclusões do IPM eram uma farsa, já continha 467 nomes de jornalistas. No sexto dia do mês, o Sindicato dos Jornalistas enviou o documento à Auditoria Militar de São Paulo, contendo as primeiras 467 assinaturas, às quais seriam acrescentadas mais centenas posteriormente. A versão final do abaixo-assinado continha o apoio de 1.004 jornalistas.

Audálio Dantas, novamente no livro “As duas guerras de Vlado Herzog”, contextualiza este grande ato de bravura dos mais de mil jornalistas que concordaram em assinar o documento em plena época de repressão militar.

“Cada assinatura constante daquele documento expressava um gesto de coragem: todos sabiam que o seu conteúdo, uma clara contestação à mentira oficial, poderia levar a represálias. E ninguém duvidava de que o texto, com as assinaturas, seria publicado. E como havia dúvida de que os jornais o publicariam, os signatários contribuíam com dinheiro para custear uma eventual publicação como matéria paga. Ou seja, pagavam para correr um risco.”

De fato, nenhum jornal publicou como notícia a íntegra do documento produzido pelos jornalistas indicando minuciosamente e denunciando as falhas do IPM. Com o dinheiro arrecadado, o abaixo-assinado foi publicado como matéria paga no jornal “O Estado de S. Paulo” em 3 de Fevereiro de 1976, com o texto e a lista completa dos 1.004 jornalistas que o subscreviam.

Em breve, a Praça Memorial Vladimir Herzog, em São Paulo, receberá uma transcrição do documento histórico, com texto e assinaturas. No local, hoje é possível encontrar um mosaico que reproduz a obra 25 de outubro, do artista plástico Elifas Andreato, assim como a escultura Vlado Vitorioso, versão ampliada pelo artista Giusepe Bôsica do conceito criado por Andreato.

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